Amor de verdade.

 



Já ouvi diversas vezes que escrevo bem. Queria dizer que escrevo ouvindo sempre meu coração.

Já faz algum tempo que me sinto diferente. Mudada. Inteira. 

Já faz tempo que falo sobre amor, sem nunca ter amado. Sem nunca ter me amado. 

Me sentia quebrada, danificada, como se nada bastasse. Como se eu sempre estivesse em busca de algo ou alguém. A gente tem mania de buscar no externo a felicidade, o amor, os sonhos, a aprovação, o contentamento, a vida. 

Nunca acreditei em destino ou acaso, mas me questionava sobre certos acontecimentos na vida, certas dores. E eu tive muitas dores, morei num lugar que era além do fundo do poço e que eu mesma criei. Não era confortável, nunca foi. Eu sempre tive força o suficiente para sair de lá, mas não saia, achava que não tinha capacidade. Eu sorria sentindo dor, só para ajudar o outro. Eu me maltratava porque achava que ser forte era ir além dos meus limites por algo ou alguém, mas nunca por mim.

Já se sentiu insuficiente?

Já teve dificuldade de acreditar em si mesmo?

Já achou que tudo de ruim acontecia contigo num dado momento da vida?

Já desistiu de algo por achar que não conseguiria?

Se você disse sim para alguma dessas perguntas, gostaria de te dizer que você é humano, e que eu também sou e disse sim para todas essas perguntas em algum momento da minha vida.

O foco da minha vida sempre foi o amor. O outro. Os relacionamentos humanos em geral.

A gente cobra o outro coisas que faltam na gente, achando que o outro tem que suprir o que não sabemos dar pra nós mesmos. Eu estou falando de amor próprio também. 

Passamos metade da vida estudando e outra metade trabalhando para poder envelhecer bem. Mas o que é envelhecer bem? Uma casa própria? Uma conta bancária cheia? Uma família grande? Uma boa aposentadoria? Um lote num bom cemitério? Eu não sei bem, mas sei que ninguém nos ensina a ter amor próprio. E isso é tão importante.

Eu nunca consegui me sentir feliz de verdade num relacionamento. Eu escondia meus sonhos pra viver os da pessoa que estava comigo. Eu colocava a pessoa sempre acima de mim, das minhas necessidades, do que era importante pra mim. 

Eu queria mais bem pra pessoa do que pra mim. O que sempre me importou foi ver as pessoas que amo felizes, independente deu estar me sentindo infeliz. Minha felicidade sempre foi a felicidade alheia. 

Minha mãe me diz desde criança que ou você aprende pela dor ou aprende pelo amor. Eu admiro ela, porque ela superou muita coisa sem nunca demonstrar quando éramos crianças. Vi essa mulher ter 3 empregos ao mesmo tempo, dar comida pra as filhas e deixar de comer, trabalhar doente, recém operada, triste, com dor. Mas com isso aprendi que ser forte significava não respeitar seus limites, não se respeitar. Achei que isso era o certo e segui vivendo da mesma maneira. 

Cai muitas vezes e levantei sem pedir ajuda. Sorri muitas vezes quando queria chorar. Chorei muito em silêncio para não incomodar. Guardei minha dor pra fazer o outro feliz. Implorei por amor e não entendia por que as pessoas iam embora. Me acostumei com a dor, me acostumei a não acreditar em mim mesma, a duvidar de que eu podia. Vivi uma depressão profunda levantando os outros. Vivi um relacionamento abusivo dizendo que tudo estava bem, me culpando. 

Isso não é força. 

Isso não é amor. 

Isso não é resiliência. 

Isso é falta de respeito consigo mesma. 

Eu não tenho orgulho da pessoa que eu fui, mas sou grata a ela por ter sempre sobrevivido. Por continuar mesmo depois de ter desistido. 

Apesar de tudo, eu nunca deixei de sonhar, nunca. 

Eu peço perdão pra mim mesma por ter cuidado tão mal de mim. Por nunca ter me dado amor. Por nunca ter me dado afeto. E eu também me perdoo por nunca ter dado valor a essa mulher incrível que eu sou. 

Eu precisei morrer muitas vezes pra chegar aqui. Renasci muitas vezes, mas pela primeira vez, eu nasci, novamente, mulher, inteira, capaz, sonhadora, forte, se amando um monte. 

Tive muita ajuda nessa mudança, quando realmente quis mudar. Eu, um dia, em outubro de 2021, parei de querer sobreviver e senti uma vontade avassaladora de viver, e era tão quente, tão bom.

Esse texto chama "Amor de verdade". Pode não fazer sentido pra você, mas ainda preciso te contar o que aprendi sobre o amor, de verdade. Aquele que existe por alguém mas não compete com seu amor próprio, ele nunca se coloca além de você mesma, ele te acompanha mas não decide por você, ele é livre mas escolhe ficar, ele não humilha e sim respeita. 

Ainda vou te contar, porque esse texto é muito grande para explicar o que sinto em meu coração nesse momento. 

Seja forte, mas sempre gentil consigo mesmo. 

Acredite em você antes de acreditar no outro. 

Ouça sua intuição e não o que os outros pensam. 

Sonhe muito antes de pensar em viver os sonhos de alguém.

Se alguém te diz que seu sonho não vale a pena, então essa pessoa não vale a pena. 

Se você ficar realmente feliz pelas conquistas e sonhos de alguém, sem medo de perder, é porque você aprendeu a amar de verdade. 

Se você tem medo de perder alguém, é porque nunca foi seu de verdade. 

Se você desconfia de alguém, é porque desconfia de si mesmo também. 

No final, tudo fica bem. Eu prometo. 


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